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Estado de Minas HONDA CG TITAN

Insatisfeito com moto, cliente promete 'protesto eterno' em concessionária

Motoboy reclama da garantia após moto apresentar falha na embreagem. Sem recorrer à Justiça, ele pretende ficar no local até receber o dinheiro de volta. Revenda afirma mau uso


postado em 30/06/2015 14:04 / atualizado em 09/07/2015 11:30

Dono da moto (à esquerda) faz protesto numa das principais avenidas de BH e nas redes sociais(foto: Luan Tinum/Arquivo Pessoal)
Dono da moto (à esquerda) faz protesto numa das principais avenidas de BH e nas redes sociais (foto: Luan Tinum/Arquivo Pessoal)

Um motociclista resolveu reclamar de forma inusitada sobre problemas com sua Honda CG 150 Titan 2014/2015. Após uma série de defeitos não cobertos pela garantia, o jovem decidiu protestar com uma faixa na porta da concessionária onde comprou o veículo zero quilômetro. E o consumidor promete não arredar o pé até conseguir uma solução favorável a ele. Nesta terça-feira, completa o terceiro dia seguido de manifestação. Uma foto circula nas redes sociais, com mais de dois mil compartilhamentos.

Luan Santos Tinum Vieira, de 22 anos, juntou as economias para comprar a moto de forma parcelada, com custo efetivo total de R$10.275, em outubro de 2014 na revenda By Moto, Região Oeste de Belo Horizonte. A intenção era trabalhar de carteira assinada como motoboy num restaurante. Dois meses e quatro mil quilômetros depois, a embreagem queimou. Análise técnica acusou mau uso e o jovem teve que pagar pelo conserto.

Aos oito mil quilômetros, em fevereiro deste ano, a moto apresentou o mesmo defeito. O veículo ficou parado por mais de uma semana. Novamente a falha foi atribuída ao uso da moto e o reparo foi feito sem garantia. E para piorar, Luan perdeu o emprego.

Em mais um salto de quatro mil quilômetros, a Titan voltou a queimar embreagem. Antes disso, aos 10 mil quilômetros, o consumidor queixou barulho de válvulas batendo, defeito consertado pela By Motos. Agora aos 12 mil quilômetros, o consumidor encostou a moto. Além de não confiar na segurança, a motocicleta está com a documentação 2015 e seguro atrasados. E duas prestações da moto já estão em aberto.

“Tentei resolver tudo de forma amigável. Comprei a moto para trabalhar, ela apresentou defeito e colocaram a culpa em mim. Isso não é normal, qualquer mecânico experiente pode comprovar”, afirma Luan. O motoboy entrou com representação no Procon da Assembléia contra a concessionária em abril. Na primeira audiência, a By Motos reforçou que o defeito não estava coberto pela garantia e não houve acordo. Na segunda audiência, as partes denunciadas não apareceram. A queixa acabou arquivada. A orientação do órgão nesses casos é buscar o Juizado Especial Cível.

Luan comprou moto zero quilômetro para não ter dor de cabeça, mas acabou desiludido com marca(foto: Luan Tinum/Arquivo Pessoal)
Luan comprou moto zero quilômetro para não ter dor de cabeça, mas acabou desiludido com marca (foto: Luan Tinum/Arquivo Pessoal)


Contudo, Luan não pretende questionar o caso na Justiça. "Se entrar, vou esperar quatro anos para receber e preciso agora. Eles têm advogados e vão recorrer até Brasília. Tentaram me vencer pelo cansaço, mas apenas me deixaram mais irritado. Se todos os consumidores reivindicassem publicamente seus direitos, não tratariam todos com tanto descaso”, desabafa. Luan quer devolver a moto e ser ressarcido dos valores pagos pelo conserto, que somam quase R$ 7 mil entre mão de obra, peças e revisão. Além disso, quer ser pago pelo período desempregado, uma vez que considera o defeito na moto a raiz de toda essa situação.

Outro lado


Segundo a By Moto, todos os defeitos apresentados pela moto de Luan não estão cobertos pela garantia. O veículo passou por análise da montadora, que não identificou falha de fabricação.

“É difícil ocorrer uma queima de embreagem três vezes seguidas num veículo consagrado como a Titan. Claro que existem casos de defeito, mas foi feita toda uma análise pela Honda e esse não se enquadra. Nossa intenção como concessionários é resolver, mas não podemos atender em garantia sem anuência da marca”, informa Flávio Monteiro, gerente comercial da empresa.

Diante dos protestos do rapaz e reclamação junto ao Procon, a revenda fez oferta de recompra da moto pelo valor de mercado de usado e com deduções do imposto em atraso. “Fizemos um acordo por mera liberalidade para ajudá-lo e colocar um ponto final na situação. É um fato isolado que não reflete nosso fluxo de mais de dois mil clientes”, afirma o gerente.

Luan não aceitou a proposta e segue com o protesto. “Não vou arredar o pé e eles vão ter que devolver o meu dinheiro. Eu não queria fazer isso, mas agora fico o tempo que for necessário. Uma semana, duas, um mês ou até um ano”, diz. Luan iniciou a queixa na última sexta-feira e promete ficar no local, todas as tardes, das 14h às 18h. O jovem cogita outras manifestações, com novas faixas e até convocar uma banda de música.

Procon

Casos de Direito do Consumidor levados ao Procon resultam em audiências de conciliação entre as partes. Segundo o Procon da Assembleia Legislativa de Minas, o índice de acordos chega a 80%. Quando não há entendimento, a recomendação do órgão é que o cliente busque a Justiça. Em situações em que há dano coletivo, pode ser formulada uma representação junto ao Ministério Público.

“A garantia do produto sempre vai ser combatida pelo ‘mau uso’. Quando há uma anormalidade na operação, nenhuma garantia vai cobrir o uso. Para que o consumidor tenha sucesso, é necessário, antes de mais nada, um laudo que comprove a inconsistência dos argumentos apresentados pelo fabricante. E a via para se questionar é na Justiça”, adverte Marcelo Barbosa, coordenador do Procon Assembleia.

Em casos semelhantes, Barbosa orienta que o consumidor exija um laudo impresso da concessionária, com fotos, gráficos e índices que provem o mau uso do componente. Com posse desse documento, pode-se questionar a decisão com uma contraprova técnica consistente em juízo.

E apelar para protestos e posts nas redes sociais? “Essa estratégia pode dar certo; conheço casos com resultado favorável ao cliente. Mas é arriscado. Corre-se o risco de levar um processo por propaganda negativa ou difamação. A orientação do Procon é buscar solução na Justiça”, recomenda Barbosa.

Somente até esta terça-feira, foto já foi compartilhada mais de 2 mil vezes numa redes social(foto: Luan Tinum/Arquivo Pessoal)
Somente até esta terça-feira, foto já foi compartilhada mais de 2 mil vezes numa redes social (foto: Luan Tinum/Arquivo Pessoal)

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