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Marcas investem em centrais multimídia que distraem o motorista

Até que ponto a conectividade em um veículo deixa de ser aliada para se tornar ameaça à segurança? Mesmo com as mãos no volante, a atenção do motorista fica comprometida

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Marcas investem em centrais multimídia que distraem o motorista
Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Tirar uma selfie ao volante pode provocar uma distração de 14s do motorista



A pauta do dia da maioria dos fabricantes de automóveis é a conectividade a bordo. Não satisfeitos em carregar todo conhecimento do mundo dentro do bolso, num smartphone, precisamos ficar ligados em tudo que acontece quando estamos dentro do cinema, num jantar, no sítio e até mesmo atrás do volante. Pior é constatar que somos imediatamente levados a uma nova realidade virtual, na maioria das vezes, por assuntos pouco relevantes, que poderiam ser consumidos depois.


Está no ar uma peça publicitária do Chevrolet Onix que mostra um jovem peladão dentro do carro, a mesma nudez que todos sentimos quando, como o jovem, esquecemos o celular em casa. “É difícil impedir essa hiperconectividade, especialmente entre os mais jovens. Isso tem vários aspectos positivos, como a otimização de rotas, mas as tecnologias de hoje demandam um grau de atenção para seu manuseios que é incompatível com a segurança no trânsito’, analisa o especialista em segurança de trânsito Eduardo Biavati, da Em Trânsito Consultoria. Ele cita como exemplo o aplicativo de navegação Waze, no qual é possível colaborar com informações do local (relatar que existe um buraco ou obras na pista, por exemplo): “São muitas informações ao mesmo tempo numa tela pequena. Eu não consigo acompanhar e me limito a seguir os comandos de voz para me direcionar”, conta Biavati.

NAVEGAÇÃO Na navegação, por exemplo, quando se está conectado é possível não só obter uma rota para determinado destino, mas saber as condições de trânsito do caminho escolhido, dando a chance de optar por um caminho alternativo. Em alguns sistemas de navegação, assim que o tanque de combustível entra na reserva, o mapa passa a informar os postos de abastecimento mais próximos. Um aplicativo para smartphone consegue informar ainda o preço do combustível e até se há banheiro no local. Alguns navegadores estimulam a segurança só permitindo que seja possível consultar endereço se o carro estiver parado. Outros, sonsos, perguntam se quem está manuseando é o motorista ou o passageiro.

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 “Não adianta apenas pedir para o motorista desligar esses aparelhos, não podemos contar com essa consciência. A indústria terá que encontrar uma forma de impedir que isso aconteça, talvez só permitindo o uso de algumas funções por comando de voz”, vislumbra o especialista em segurança. “Olhos na estrada e mãos na direção”, é a visão da Ford quanto à conectividade embarcada em seus carros, se referindo à interface por comando de voz, além de comandos no volante para os sistemas de informação e entretenimento.


Chegar mídias sociais distrai cerca de 20s o motorista do trânsito



Sim, até em veículos medianos é possível atender o telefone via Bluetooth, com direito a leitor de mensagens de texto (SMS). Sim, os olhos estão na estrada e as mãos na direção, mas onde estará a cabeça desse motorista? De qualquer maneira, melhor assim do que fazer o mesmo segurando o telefone com uma mão e o volante com a outra. Ou tirando os olhos da estrada e percorrendo centenas de metros tendo como foco a tela do celular.

REDES SOCIAIS A maior aberração advinda da conectividade à bordo é o acesso às redes sociais dentro do carro. O sistema Nissan Connect, em que é possível acessar o Facebook pela tela sensível ao toque localizada no painel, foi o chamariz de lançamento do New March. Eles chegaram a descrever uma situação na qual o garotão estaria dirigindo por aí e chegaria o convite de um evento, bastando clicar na telinha para o navegador indicar o local. Isso sem falar na possibilidade de se fazer um check in para lá de brega quando chegar.


Isto acontece avesso ao que reza o artigo 3º da Resolução 242 do Contran, que proíbe os equipamentos que geram imagens para fim de entretenimento na parte dianteira enquanto o veículo estiver em movimento. Os equipamentos com essa destinação devem ter algum mecanismo automático que o torne inoperante quando o veículo estiver em movimento, o que não acontece nesse modelo. “As montadoras estão aproveitando esta barriga dos órgão de trânsito para seduzir esse consumidor jovem, que já não se interessa por um carro potente. Hoje, se você não colocar uma conexão de internet dentro do carro, os jovens não vão mais querer. Essa é a estratégia da indústria para seduzir uma geração que está deixando de tirar carteira”, explica Biavati.

SELFIE A última que se sabe a respeito da fusão entre a conectividade e o veículo é o selfie ao volante, quando o motorista faz uma foto dele mesmo enquanto dirige para postar numa rede social. A Ford encomendou uma pesquisa na Europa onde um em cada quatro jovens já fez um auto-retrato com o smartphone enquanto dirigia. “O uso do veículo sempre foi coletivo, portanto passível de distrações e consequentes acidentes. Mas a atual hiperconectividade piora muito esse cenário”, afirma Biavati.

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