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Estado de Minas

Papo de Roda - Motor a cana

O Inmetro desenvolve projeto que poderá tornar o Brasil detentor de uma das mais sofisticadas tecnologias de motor a etanol do mundo


postado em 13/07/2013 17:42

Não, eu não sou contra o etanol como combustível. Pelo contrário, ele é renovável, mais limpo, não polui, gera emprego no campo e acelera o desenvolvimento rural. O que não me agrada é o motor flex, uma solução quebra-galho provocada pela falta de planejamento do governo federal ao lançar o Proálcool há mais de 30 anos.

Se não tivesse faltado etanol nos postos, a ideia do carro movido exclusivamente com o derivado da cana teria sido um sucesso pois, pasmem, chegou a representar mais de 95% das vendas de automóveis no nosso mercado. Vale lembrar que os motores da época foram todos projetados para a gasolina e adaptados para queimar só o etanol. Sem a presença, até então, da assistência eletrônica, as fábricas bolaram apenas algumas alterações mecânicas no projeto original para torná-los adequados ao novo combustível.

Não tivesse o Proálcool estrebuchado no fim da década de 1980, nossos automóveis estariam equipados, hoje, com um motor projetado especificamente para o etanol. Muito mais eficiente que o flex, pois este sofre de angústia existencial ao ter que servir a dois senhores distintos, gasolina e álcool. No lugar de resultados pouco convincentes de consumo, as propriedades do etanol seriam exaustivamente exploradas pelos engenheiros, de modo a obter máxima eficiência térmica dos motores. Mas a exigência de queimar também gasolina impede uma elaboração mais sofisticada do flex.

O Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), órgão do governo federal encarregado de estabelecer padrões e referenciais metrológicos para qualquer produto fabricado industrialmente, está desenvolvendo um motor a etanol em seus laboratórios no Rio de Janeiro. Trata-se de uma entidade séria, que conta em seus quadros com centenas de engenheiros, muitos deles PhD em diversas áreas técnicas. Seu raciocínio é de que, se a empresa privada não pode investir num projeto a fundos eventualmente perdidos, a instituição pública pode e deve.

O Inmetro, ao tomar essa sábia decisão, poderá influir positivamente, a médio prazo, numa decisão do governo em estimular o “motor a cana”. Basta provar, na teoria dos dinamômetros e na prática das ruas, a superioridade dessa solução em relação ao flex, pois ninguém duvida de que ele terá menor consumo e emissões, oferecendo, ainda por cima, melhor desempenho. É só uma questão de “soltar as amarras” e deixar os engenheiros livres para explorar ao máximo as possibilidades do álcool, sem se preocupar com a gasolina.

Se o trabalho do Inmetro for acompanhado de um planejamento do governo federal voltado para estabilizar a participação do combustível da cana na nossa matriz energética, teremos condições de deter uma das mais sofisticadas tecnologias de motor a etanol do mundo. O que representa, adicionalmente, faturar dólares, prestígio e respeito da comunidade internacional.

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