Publicidade

Estado de Minas

Papo de roda - Chororô

Não dá para avaliar o tamanho do abacaxi energético plantado pelo governo Lula que amadureceu e despencou sobre o colo da presidente


postado em 01/09/2013 09:16

Sabe o apagão que deixou – novamente – o Nordeste sem energia elétrica durante algumas horas? O ministro Lobão explicou (mas já foi contestado pelo Ibama) que foi provocado por uma queimada numa fazenda. Sabe que fazenda é essa?

É a Santa Clara, fica em Canto do Buriti, no semiárido do Piauí, a quase 400 quilômetros de Teresina. Quase ninguém se lembra, mas em 2005, o então presidente Lula fez lá um discurso tão comovente que nem ele mesmo conteve as lágrimas. Por que tanta emoção?

Porque a fazenda estava se alinhando a uma das principais bandeiras de Lula: a produção de biodiesel. Cedida pelo governo estadual num projeto comunitário, ela foi distribuída para mais de 600 famílias plantarem mamona, que seria fornecida para a Brasil Ecodiesel produzir o biodiesel. O chororô do presidente foi porque o novo combustível não seria obtido a partir da soja, plantada no Sul do país, mas da mamona, privilegiando as populações carentes do Nordeste. Um projeto que assumiria proporções incalculáveis, com a substituição de milhões de litros do derivado de petróleo, reduzindo poluição, remessa de divisas (parte do diesel é importado até hoje) e sem interferir na oferta de soja. Reforçou outras promessas de investimentos sociais e econômicos na região, ferrovia, refinaria e transposição do São Francisco entre elas. Nenhuma foi concluída até hoje.

Nem mesmo a produção de mamona vingou: ela foi desativada, pois a produção do biodiesel é quase toda a partir da soja e metade das famílias que ainda moram na fazenda Santa Clara plantam feijão e milho. Ela virou símbolo do fracasso do projeto do biodiesel social.

O chororô hoje é outro. Lula anunciou a adição de 20% do biodiesel ao diesel até 2020. Mais uma promessa complicada de ser cumprida, pois o percentual está travado hoje em 5%. A capacidade de produção é maior, porém o problema é seu custo: a ideia era obtê-lo a partir da mamona e outros grãos, como pinhão, girassol, algodão, palma. Hoje, 80% do biodiesel vem da soja, ao contrário do planejado pelo governo há 10 anos, ao lançar o projeto. Além do tombo, o coice: a soja teve seu preço disparado no mercado internacional por quebras de produção em outros países. Preto no branco, um litro de biodiesel custa quase o dobro do diesel e sua adição só se justifica por ser uma determinação legal.

Não dá para avaliar o tamanho do abacaxi energético plantado pelo governo Lula que amadureceu e despencou sobre o colo da presidente. Além do imbróglio do biodiesel, tem também o dos produtores de etanol: seu preço não pode ser aumentado, pois está amarrado ao da gasolina. E este a Dilma não aumenta para não botar lenha na fogueira da inflação.

A presidente só não chora de tristeza porque tem abacaxis maiores para descascar no Planalto.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade