“Desmancha sem bater.” Há 50 anos, o infame apelido era um estigma para o Gordini no Brasil. Lançado em 1962 como evolução do Dauphine, com motor mais potente (de 31cv para 40cv) e câmbio de quatro marchas, em vez de três, o sedã Renault produzido sob licença pela Willys Overland penava com queixas de qualidade. A água do radiador, por exemplo, evaporava. Características que o imaginário popular logo associou ao conhecido slogan publicitário de leite em pó da época. Décadas mais tarde, quem diria, a fragilidade acabou sendo o mote para a sobrevivência do nome do automóvel. Mas não em uma nova geração.
“Nos anos 1980, a gente fabricava um carrinho de mão que pesava de 11kg a 14kg. De repente, o mercado começou a rejeitar o nosso produto por ser muito reforçado e pesado. Tivemos que simplificá-lo. Queríamos passar a impressão de um carro mais frágil”, conta o empresário Ernani José dos Santos.
Daí surgiu a ideia de usar a marca Gordini em um carrinho de mão. Dono da indústria metalúrgica Esfera, que produz o veículo de uma roda e caçamba, Ernani afirma que a escolha ajudou a acelerar as vendas. Hoje, Gordini designa toda uma família de carrinhos de mão. Produzidos em Itaúna, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, um ritmo de produção de 25 mil unidades/mês, os modelos são vendidos em todo o Brasil – em especial nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Além do país, o Gordini mineiro é exportado para o Paraguai e será vendido no Uruguai. “No começo, brincávamos que o carrinho Gordini só andava empurrado. Enquanto o carro Gordini era apontado como frágil, o Volkswagen era econômico e resistente”, brinca Ernani.
Além do carrinho de mão original, chamado Gordini Soft, com capacidade para 8,5kg, também são fabricados pela Esfera o carrinho de mão Gordini de caçamba mais resistente; o Gordini Export, padrão exportação com acabamento galvanizado; e a linha G (também em referência ao Willys), de chassi mais resistente e completamente soldado, apropriado para a construção civil. “O nome pegou e logo depois acrescentamos a frase o carro do povo. Na Região Centro-Oeste, qualquer comércio do ramo conhece o carrinho”, garante.
DE ESTIMAÇÃO A relação com o carro levou Ernani a adquirir um Gordini. O exemplar, um Gordini IV 1968 de cor vermelha, a mesma usada no Gordini Soft, foi encontrado em uma loja de usados de Pará de Minas, também na Região Centro-Oeste. Atualmente, repousa na portaria da empresa, percorrendo passeios semanais sob os cuidados de um funcionário para manter o bom funcionamento. O próximo passo é obter a placa preta, apesar de a idade manter a originalidade. O ano de 1968 foi o último de fabricação do Gordini: a partir de 1966, o automóvel vinha identificado pelos números II, III ou IV. Com a venda da Willys para a Ford, acabou sendo substituído pelo Corcel.
Ernani renova a marca Gordini no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) a cada 10 anos. Além dela, planeja concluir o registro da marca Dauphine, em andamento. Décadas depois, o Gordini voltará a ter companhia em breve.
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NOSTALGIA
Marca Gordini é mantida em família de carrinhos de mão produzida em Minas
Pequeno sedã nacional dos anos 1960 dá nome de produto fabricado em Minas. Inspiração vem da fragilidade do carro, montado sob licença pela Willys Overland
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