Quem depende do veículo para trabalhar sabe bem que o corpo e a mente cansados são os principais vilões da atenção nas ruas. Para quem dirige à noite, esse problema se torna bem maior, chegando a ser responsável por 60% dos acidentes.
Biologicamente, o corpo precisa do tempo de descanso para trazer benefícios como a redução do estresse, controle do apetite, melhora no humor e na memória. Um dos hormônios liberados durante o sono é a melatonina, responsável por regular o tempo de repouso e reparar as células expostas a estresse, poluição, entre outras.
A privação do sono é mais prejudicial do que se imagina. Sem falar nos problemas para o corpo como aumento do estresse e perda de memória, quem dirige um veículo com o nível de melatonina alto corre um grande risco de causar e sofrer acidentes.
A privação do sono é capaz de atingir os sistemas imunológico e hormonal de forma negativa. A falta do descanso ainda é responsável por não restabelecer os neurotransmissores e ocasiona a falta de concentração, atenção, raciocínio e, para os condutores, a diminuição das atividades necessárias para conduzir um veículo.
Segundo um levantamento da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), no Brasil 60% dos acidentes rodoviários envolvendo motorista profissional, com carteiras de habilitação C, D e E, são causados por sono e fadiga. Se levar em consideração todos os acidentes ocorridos em rodovias e áreas rurais e urbanas, esses fatores são a terceira maior causa de acidentes no país, perdendo apenas para a junção entre álcool e direção e o excesso de velocidade.
Também de acordo com a Abramet, mais especificamente, através de um estudo de um projeto desenvolvido pela associação, o Não dê Carona ao Sono, a relação entre a quantidade de horas dormida e o tempo que se está dirigindo influencia diretamente na qualidade da condução. Um exemplo é que se o condutor dormir cinco horas e meia, a chance dele causar algum acidente no trânsito é 10 vezes maior em relação a quem dormiu as oito horas recomendadas. Esse é um dado proporcional, no sentido de que, cada menos horas dormidas, maiores as chances de causar acidentes. Se um motorista dormir apenas quatro horas e meia, o risco aumenta para 12 vezes, quando as horas de sono se restringem a apenas três horas e meia, o perigo cresce para 20 vezes.
Para evitar esse perigo, existem algumas recomendações que podem ser seguidas. Dormir a cada 14 horas e ter uma noite de sono entre sete e oito horas seguidas é o ideal para não adormecer ao volante, ou perder a atenção na via. Uma pessoa que está acordada há mais de 20 horas é comparada a uma pessoa embriagada. Alternativas para driblar os efeitos do sono como tomar café, ligar o rádio e o ar condicionado é capaz de deixar o condutor alerta por apenas poucos instantes, porém não é possível evitar o cansaço indefinidamente. O que pode complicar mais ainda é que o condutor pode não perceber quando o método utilizado para driblar o sono parar de fazer efeito.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), somente no ano passado o número de acidentes causados por motoristas que dormiram ao volante chegou à marca de 3.796. O resultado disso foram 3.629 pessoas feridas e 371 mortas. O problema com o sono e o volante afeta, principalmente, os condutores de veículos de transporte rodoviário coletivo de passageiros ou de cargas. Para eles, o indicado é não dirigir por mais de cinco horas e meia ininterruptos com, no mínimo 30 minutos de descanso para quem transporta carga e, para quem realiza transporte de passageiros, no mínimo 30 minutos de descanso a cada quatro horas no volante.