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Motor 2.0 Chevrolet - Impotência precoce

Donos de Astra, Vectra e Zafira reclamam de falhas, principalmente quando carro está com gasolina. Revendas tentam reparo no cabeçote, válvulas e reprogramação eletrônica

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Donos de Astra temem perder garantia antes que a GM descubra a origem de defeito

O empresário mineiro Marcelo Oliveira, que mora em Vitória (ES), comprou, em outubro do ano passado, um Chevrolet Vectra GT 2.0 09/10. Cerca de dois meses depois, aos 2 mil quilômetros rodados, começou a sentir falhas nas retomadas de velocidade, principalmente quando abastecia com gasolina. Pesquisando, descobriu diversos outros proprietários de modelos GM com motor 2.0, reclamando do mesmo problema. "A perda de força acontece, principalmente, entre as 2 mil e 4 mil rpm. É como se estivesse abrindo buracos, vácuos nas acelerações", descreve Marcelo. No início do ano, ele levou o automóvel até uma concessionária da marca e, há cerca de um mês, foi trocado o cabeçote. "O problema ainda não voltou, mas só rodei 700 quilômetros depois da troca. E, por precaução, quando viajo, só estou abastecendo com álcool, pois tenho notícias de que a troca do cabeçote não está resolvendo", afirma.

E Marcelo não está errado. Moradora do Rio de Janeiro, a fisioterapeuta Dileni Paim Alves tem um Astra 2.0 09/09, que já passou por duas tentativas de conserto, sem solução. O carro foi comprado em maio e, atualmente, está com pouco mais de 15 mil quilômetros. Logo que apresentou o problema, o diagnóstico na concessionária fluminense foi o mesmo do da capixaba: troca do cabeçote, o que demorou cerca de 10 dias, por falta da peça. O problema voltou e, na segunda tentativa, foi feita retífica nas guias das válvulas, mas o defeito persiste. "Depois de desmontarem o motor duas vezes, esta semana me disseram que a atualização do software da central de injeção vai resolver. Então fizeram a recalibração do módulo ECM para a diminuição da sensibilidade do sensor de detonação. E são vários os carros com problema. Só hoje (última terça-feira), na hora em que estive na concessionária, havia quatro carros lá fazendo esta atualização", relata o filho, Bruno Alves, que ajuda Dileni a resolver o problema.

Também no interior de São Paulo, na cidade de Jales, o contador Carlos Eduardo Pontes Vialle sofre com o mesmo problema em seu Vectra Elegance 2.0 09/09, comprado em maio e, atualmente, com menos de 10 mil quilômetros rodados. A descrição é a mesma: ao abastecer com gasolina, o carro perde potência, no caso dele, principalmente entre 3 mil e 5 mil rpm. "Quando levei à concessionária da minha cidade, falaram que a GM já sabia do problema e trocaram o cabeçote. Mas tive que esperar dois meses, porque a peça estava em falta", conta Carlos Eduardo, lembrando que o reparo foi feito em dezembro, mas o problema voltou: "Falaram que o cabeçote era de um lote com problema. Parece que está na usinagem de alguma peça, mas não souberam dizer qual é. A GM tentou modernizar esse motor e acabou com ele". Para complicar, o carro ainda teve problema na máquina do vidro elétrico e, agora, na direção hidráulica.

Na internet, sites de relacionamento e clubes especializados estão cheios de relatos sobre o problema. Proprietários, principalmente de Vectra e Astra, descrevem o defeito e dão dicas para outros consumidores, que já se atrevem a concluir: o problema atinge os modelos 2.0 ano/modelo 09/09, 09/10 e 10/10 e sempre manifesta quando o veículo é abastecido com gasolina, fazendo sentido estar surgindo com mais força num momento em que, em praticamente todo o Brasil, motoristas começam a dar preferência ao uso da gasolina, tendo em vista o aumento do preço do álcool.

Revendas

Em Belo Horizonte, a maioria das concessionárias Chevrolet confirma não só a existência do defeito como a mesma orientação de diagnóstico: reparo no cabeçote, nas guias das válvulas e reprogramação do sistema de injeção. "É como se você acelerasse e o carro desse uma murchada. De 2.0, passa a ter comportamento de 1.6 ou 1.0", explica um mecânico da marca. "O carro fica fraco. Em alguns casos, começa a falhar e a morrer. Ou pode ser que você esteja subindo um morro alto e, de repente, perca a potência", confirma outro mecânico, tranquilizando para o fato de que, desde que todas as revisões estejam em dia e o carro, dentro do período de garantia, todos os reparos são feitos sem custo. "E, além disso, não são todos. Por isso, não virou uma campanha", explica.

Mas a perda da garantia e o fato de não haver uma campanha oficial são a maior preocupação dos consumidores. “Como o meu carro é um Vectra, que tem três anos de garantia, fico mais tranquilo. Mas o pessoal que tem Astra, e é só de um ano, está bem mais preocupado, pois já disseram que a fábrica não está estendendo a garantia”, afirma Marcelo Oliveira. "Mas o que espero mesmo é que a GM adote uma solução para o problema e chame os proprietários para um recall, pois é uma questão de segurança. Imagine numa ultrapassagem ou situação de emergência em que o carro comece a falhar", diz.

Garantia

Para o advogado Geraldo Magela Freire, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Minas Gerais, não há dúvidas de que deve ser feito o recall. "Tudo que compromete a integridade física ou saúde do consumidor é caso de recall", afirma. "Indo mais além, acho que sempre que há um defeito em série, mesmo que não atinja necessariamente a segurança, deve ser feito recall, pois os defeitos aparecem em massa", continua.

Além do Astra, o motor também equipa o sedã Vectra e o monovolume Zafira



Com relação ao medo dos consumidores no que diz respeito ao prazo da garantia, Magela informa que antes de vencer o prazo, deve ser enviada para a GM e para a concessionária uma carta registrada (para haver o comprovante de recebimento), relatando o defeito. "Para evitar a prescrição, a empresa e a revenda estarão notificadas para tomar as providências", explica. Segundo ele, a carta pode ser de próprio punho, sendo importante ter a comprovação de que foi recebida. Além disso, o consumidor deve guardar todas as ordens de serviço e demais comprovantes das entradas em concessionária, caso pretenda (ou precise), no futuro, pleitear judicialmente os direitos.

Consultada, a General Motors não retornou até o fechamento desta matéria.

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